A Beleza da Liturgia
De 5 a 9 de Julho, estive no Mosteiro de Montserrat, em Barcelona, estudando, com outros sacerdotes e leigos, a Beleza do Gesto na Liturgia, um tema tão estudado nos dias de hoje e ao qual se dá muita importância.
Que significa ter uma bela liturgia? Responder ao gosto dos consumidores? A liturgia não é uma espécie de mercadoria, não é o super-mercado da Igreja! Sabemos que é, acima de tudo, obra de Deus, adoração, acolhimento.
Então, deveremos interrogar-nos sobre quais são os critérios fundamentais da beleza da liturgia, para além dos gostos e das modas…
Para compreender a beleza da liturgia, é necessário partir da concepção da Igreja: «é, em Cristo, de algum modo, o sacramento, isto é, ao mesmo tempo o sinal e o instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o género humano» (Lumen gentium, 1).
A Igreja, pois, mediante o seu ser de “sinal”, torna possível, de um certo modo, a percepção de Cristo como sacramento da salvação. É precisamente a partir desta sacramentalidade que se articulam os sacramentos propriamente ditos. O sacramento, acto da Igreja, é também acto de Cristo, porque a Igreja nada faz que Cristo não lhe tenha dito ou ensinado: «Fazei isto em memória de mim» (Lc. 22, 19). Os sacramentos são modalidades pelas quais Cristo nos comunica a sua salvação: «Quando alguém baptiza, é Cristo que baptiza» (Sacrosanctum Concilium, 7). S. Leão Magno diz: «O que era visível em Cristo passou para os sacramentos da Igreja».
A liturgia é acção de Cristo e da Igreja; não depende essencialmente da esfera intelectual, mas repousa sobre o princípio da Incarnação e comporta uma dimensão estética.
Assim, os nossos gestos, na celebração, são importantes porque são gestos de Jesus. Na celebração litúrgica e nos gestos concretos que ela requer, a Igreja não faz mais que prolongar e actualizar os gestos do Senhor Jesus. Os gestos da liturgia têm, pois, em si mesmos a sua beleza e a sua estética, enquanto gestos de Cristo, antes mesmo da beleza acessória e secundária que possamos acrescentar.
Os Evangelhos apresentam-nos a gestualidade concreta e humana de Jesus: caminha, abençoa, toca, cura, faz lodo, levanta os olhos ao céu, parte o pão, toma o cálice. São gestos que a liturgia retoma na celebração dos sacramentos. Mas foi sobretudo na véspera da sua Paixão que Jesus ensinou os gestos que, por nosso lado, devemos realizar.
Ele é o mestre da nossa educação litúrgica. A sua arte consiste em exprimir o essencial em poucas coisas. A significação da liturgia só se torna transparente na simplicidade e sobriedade.
Mas a verdadeira beleza é o gesto de amor salvífico: «amou-os até ao fim… tomou o pão». É por isso que o gesto é belo. Quando repete o gesto de Cristo, a Igreja acha-o belo porque reconhece no gesto o amor do seu Senhor.
O sentido estético, o sentido da beleza da liturgia, não depende, em primeiro lugar, da arte mas do amor do mistério pascal. Para cooperar com a liturgia, a arte precisa de ser evangelizada pelo amor. A beleza de uma celebração eucarística não depende essencialmente da beleza arquitectónica, dos ícones, das decorações, dos cantos, dos paramentos sagrados, da coreografia e das cores, mas, em primeiro lugar, da sua capacidade de deixar fazer transparecer o gesto de amor realizado por Jesus.
Por meio dos gestos, das palavras e das orações da liturgia, devemos reproduzir e fazer transparecer os gestos, a oração e a palavra do Senhor Jesus. Foi esse o mandamento que recebemos do Senhor: «Fazei isto em memória de mim».
Pe. Jorge Seixas |