TODOS OS SANTOS
O centro das celebrações do ano litúrgico é o mistério de Jesus Cristo, Filho de Deus, morto e ressuscitado, Salvador da humanidade. Ele é o Santo de Deus, cheio do Espírito Santo, em fiel comunhão com o Deus Santo. Celebramos também a memória de muitos santos e santas que foram fiéis ao Espírito do Senhor e que a Igreja reconhece, venera e propõe como exemplo. Em ambiente de alegria e de acção de graças, com esta solenidade celebramos a obra grandiosa de Deus entre os homens. Celebramos a memória de muitos homens e mulheres, “uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” que viveram segundo Jesus Cristo, “que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro” e encontraram a alegria em Deus; “a assembleia dos santos, nossos irmãos, glorificam eternamente o vosso nome”. Celebramos também o fruto do Espírito de Deus em todos os que agora vivem na tribulação da vida, espalhados por todo o mundo e que são fiéis à fé e ao Senhor, aos humildes e puros de coração, e que sabem ter compaixão de todos os que são promotores da justiça e da paz, mesmo sofrendo perseguições, homens e mulheres de fé, de esperança e de amor.É o dia da “comunhão de todos os santos” (Credo), a invisível comunhão de vida entre todos os que, agora, na Igreja e em todo o mundo, sabem amar e fazer a paz, que são humildes e puros e estão em comunhão com a Igreja Celestial, “a nossa mãe, onde a assembleia dos santos, nossos irmãos, glorificam eternamente o vosso nome”.
O texto das bem-aventuranças é uma das passagens mais importantes do Evangelho. Jesus, sentado no cimo do monte como Mestre, fala à humanidade e proclama: Felizes os pobres em espírito, os puros de coração, os que promovem a paz; o Reino de Deus é para eles, agora e para sempre. Jesus proclama por diversas vezes que a vida do homem é o Deus do Amor, do Perdão, da Vida; e revela que os que encontram a vida em Deus são os humildes, os que choram, os que promovem a justiça, mesmo sofrendo perseguições. As bem-aventuranças são um auto-retrato de Jesus; Ele é pobre, humilde, pacífico, perseguido e morto porque promove a justiça de Deus. Com a Sua Palavra, a Sua Vida, Morte e Ressurreição, Jesus responde à pergunta que todos nós fazemos: qual é a verdadeira vida humana? Ainda hoje, para nós, as bem-aventuranças são afirmações que nos inquietam. Estamos a construir um mundo muito longe destes valores, considerando-os ineficazes e até ridículos. Porém, Jesus toca o íntimo da nossa vida humana e diz-nos que esta é a sua verdadeira grandeza. As bem-aventuranças ajudam-nos a ver tudo aquilo que há de puro e bom em nós, selado com o Espírito de Deus. Mas, depois de tantas experiências, tendemos para o pessimismo e para o desânimo. Contudo, o Evangelho revela-nos qual é a verdadeira vida e onde a podemos encontrar: hoje, continuam a existir pessoas e grupos puros, generosos, sensíveis à justiça, que amam e perdoam, fiéis à força do Espírito Santo. Jesus convida-nos a ter um olhar de confiança no homem cheio de fé sobre todos os homens e mulheres que nos rodeiam para neles descobrir sinais de amor, de humildade. Convida-nos também à esperança de que o dom de Deus sempre encontrará corações dispostos à paz e ao amor. Estes são os santos de cada dia, que não fazem coisas extraordinárias mas tornam possível a paz, a alegria e a esperança.
A Solenidade de Todos os Santos evoca a fé na ressurreição e na vida eterna. As afirmações cristãs sobre o céu provocam à nossa volta dúvidas e cepticismo, até mesmo um certo desprezo sarcástico perante afirmações consideradas infantis e já ultrapassadas. Jesus disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. Este é o verdadeiro sentido da fé cristã sobre o céu. Aqueles que vivem amando, desprendidos das coisas supérfluas, começam já a viver a verdadeira vida de Deus e encontrarão em Deus a plenitude desta vida: o amor a todos sem egoísmo, a liberdade autêntica, a confiança em Deus, a vida humana eterna. O céu que Jesus revela não é uma felicidade infantil e egoísta, ou um prémio pelo bom comportamento, é viver plena e eternamente em Deus a verdadeira felicidade, o amor generoso, as bem-aventuranças. A Solenidade de Todos os Santos é um dia de contemplação da admirável obra de Deus, espalhada por todas as áreas da vida humana, e de acção de graças por todos aqueles, santos autênticos, que no silêncio de cada dia são fiéis ao Espírito do Senhor morto e ressuscitado. |