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Notícias da Igreja
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Jornal - Notícias da Igreja

ALEGRAI-VOS

“Alegrai-vos no Senhor, novamente vos digo, alegrai-vos” (Fil 4,4), é o convite de S. Paulo. A alegria cristã nasce da Ressurreição de Cristo Jesus. O cristão é o homem e a mulher da alegria que brota da vida nova do Ressuscitado. “Não está aqui, ressuscitou” (Mc16,6), é a grande mensagem pascal anunciada a Maria Madalena. E esta mensagem, com a certeza da vida nova de Jesus Ressuscitado, “contagia” os apóstolos e gera um novo procedimento cristão, singular: são discípulos de Alguém que vive e não morre mais.

Infelizmente nós, os discípulos do Senhor, vamos dando um testemunho pouco eloquente desta alegria. Muitas vezes parecemos “profissionais” da tristeza e da desgraça, de uma piedade doentia, de momentos de oração pesados e tristonhos, eivados de melancolia, desespero, quase superstição doentia. Que temos feito da alegria pascal? Como testemunhamos ao mundo a certeza que Cristo está vivo, que é o Jesus Ressuscitado? Que lugar damos à verdadeira alegria na nossa vida? Perante as nossas fragilidades e limitações de idade ou de saúde, será que perdemos a verdadeira alegria? Diante destes tempos tão “enevoados” de crise, de mentira, de doutrinas enganadoras, de arautos do facilitismo e do parasitismo (viver à custa do suor dos outros), que espaço à verdadeira alegria que nunca é passageira, mas permanente? Que alegria é esta?

Não podemos ser uns tristes discípulos do Cristo Pascal. Agora estais tristes, mas a vossa tristeza converter-se-á em alegria, era a alegre profecia que Jesus dizia aos apóstolos. Por isso lhes afirma: “Dou-vos a minha alegria. Quero que tenhais em vós a minha alegria e que a vossa alegria seja completa” (Jo 15,4). Somos alegres discípulos de Cristo Ressuscitado, partilhando a sua alegria pascal. Com S. Paulo, cada cristão devia proclamar: “alegrai-vos e congratulai-vos comigo” (Fil 2,8).

A Páscoa celebra-se sempre na alegria. Apesar de tudo e acima de tudo, a alegria da certeza da presença firme e constante na nossa vida de Jesus Cristo. A partir Dele, há que reconstruir este mundo que nos rodeia e revigorar a alegria no mais íntimo do nosso ser.

Só assim celebraremos uma Páscoa Feliz.

Cónego Jorge Seixas

 
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Jornal - Notícias da Igreja

O Círio Pascal e a Luz de Cristo

Estamos na Páscoa do Senhor e nas paróquias e demais comunidades cristãs começa a sentir-se a azáfama dos preparativos. Entre eles a aquisição do Círio Pascal que, preparado no início da solene Vigília na Noite Santa, dissipará as trevas da noite, do coração e do espírito com a luz de Cristo Ressuscitado. E surgem questões: Como e de que material? Com que ornatos? Com que peso e medida?

A palavra «círio» vem do latim «cereus», quer dizer: «de cera». Faz parte da verdade do símbolo que seja mesmo de cera, não bastando que «pareça». Deveríamos cuidar de que tudo o que é imitação, fingimento, arremedo fosse afastado das nossas celebrações. No caso concreto do círio pascal, utilizar um «cilindro» de outra matéria para depois cantar o precónio pascal seria ridículo, para além de falso. Basta transcrever alguns trechos dessa belíssima oração que poderá remontar aos tempos de Santo Ambrósio e Santo Agostinho: «Agora conhecemos o sinal glorioso desta coluna de cera, que uma chama de fogo acende em honra de Deus: esta chama que, ao repartir o seu esplendor, não diminui a sua luz; esta chama que se alimenta de cera, produzida pelo trabalho das abelhas, para formar este precioso luzeiro».

 

Este precioso luzeiro, é símbolo de Cristo Ressuscitado. Na escuridão da noite, quando todas as luzes da igreja estão apagadas, ao acendê-lo em primeiro lugar do lume novo, o Sacerdote que preside à Vigília proclama: «A luz de Cristo gloriosamente ressuscitado nos dissipe as trevas do coração e do espírito». E erguendo-o, qual coluna de fogo que na noite do êxodo guia o povo, o ministro cantará por 3 vezes, subindo sempre na escala musical: «A Luz de Cristo!»

Se nele brilha a Luz de Cristo, retire-se dele tudo o que de algum modo possa desfocar esta centralidade e unicidade. Temos visto círios com os «enfeites» mais variados. Já o vimos com a representação da Senhora da Azinheira a falar aos pastorinhos de Fátima… E a fantasia sem fundamento, ou apoiada apenas na mera devoção sem doutrina, é ilimitada na sua suposta «criatividade». Como se essa chama gloriosa devesse lembrar à assembleia dos fiéis algo mais do que a Luz de Cristo. Como se nós fôssemos de Paulo, ou de Apolo, ou de Cefas e não todos sempre e só de Cristo!

 

O Círio pascal não é um objecto decorativo nem devocional. Não pode ser pretexto para exercícios de estética duvidosa ou descontextualizada. O Missal diz-nos qual deve ser o seu «preparo» e ornato: «Depois da bênção do lume novo, um acólito ou um dos ministros apresenta o círio pascal ao celebrante, o qual, com um estilete, grava no círio uma cruz; depois grava a letra grega Alfa por cima da cruz e a letra grega Ómega por debaixo e, entre os braços da cruz, grava os quatro algarismos do ano corrente». Nada impede – até servirá de ajuda aos celebrantes e assegurará a melhor visibilidade por parte da assembleia – que o círio já esteja «marcado» com essa cruz (duas hastes cruzadas), as duas letras gregas sobre e sob a haste vertical e os números do ano. E aqui até há espaço para o desenho, para a cor e, porventura, para relevos: com verdadeira arte. Nunca, porém, se pode prescindir da cruz: o Ressuscitado é o Crucificado e não há outro. Nem dos outros elementos gráficos que a celebração supõe e exige e que nos ajudam a ver e compreender que a Páscoa de Cristo, o nosso Alfa e Ómega, princípio e fim de tudo e todos, nos alcança e nos renova neste ano concreto em que vivemos: ano da graça. Por isso, o círio pascal tem de ser novo e único para cada ano.

O Rito da Vigília prevê a possibilidade de acrescentar este ornato cravando nas hastes da cruz 5 pinhas de incenso, numa alusão às cinco chagas de Cristo na Cruz. Se há país em que se justificaria manter este costume esse é Portugal: basta pensar que o simbolismo das chagas está presente na Bandeira Nacional, e essa devoção nos acompanha desde os alvores da pátria. Entretanto, este rito é opcional. Diz a rubrica do Missal: «o sacerdote pode…».

 

Que peso e medida? Em alguns lados, porventura para aumentar a superfície e ter mais espaço para relevos e criações pictóricas, chegou-se ao exagero de círios a pesar mais de 30 Kg, esquecendo que ele deve ser levado em procissão, bem erguido, por um homem normal e não por um qualquer Hércules ou campeão de halterofilia, que deve ser mergulhado pelo presidente na água baptismal por 1 ou 3 vezes, que deve ser sustentado nas mãos pelo ministro do Baptismo para que os padrinhos ou pais vão nele acender a vela dos neófitos, etc. Aliás, quando o diâmetro é excessivo, a chama do pavio não assegura a combustão de toda a cera liquefeita e esta acaba por apagar o círio se não houver a precaução de regularmente despejar a cera liquefeita num «cerimonial» acrescentado e bem dispensável. Mas o círio também não pode ser tão exíguo que desapareça da vista da assembleia e não possa ser «único para todo o ano», cumprindo gloriosamente a sua missão de arder em todas as celebrações com alguma solenidade do Tempo Pascal e, ainda, em todas as celebrações do Baptismo e, porventura, em todas as celebrações exequiais (o Ritual de Exéquias prevê a possibilidade de o círio ser a única chama a arder junto do féretro durante a celebração na Igreja). Enfim, o bom senso e o bom gosto terão de ditar a sua lei. Tenha-se em conta o número previsível de celebrações em que o círio deve arder, bem como a dimensão da igreja e do candelabro onde será colocado: durante o tempo pascal junto ao ambão e, no restante ano, no Baptistério. E não se exceda a medida e peso comportável pelas forças normais de uma pessoa. Bom senso e bom gosto!

 
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Jornal - Notícias da Igreja

Quaresma em família…

1. Também a Quaresma, como tempo de avaliação e de reforma, de iluminação e renovação (re-criação) deve atingir a família cristã. Não apenas os indivíduos e as comunidades, paróquias e diocese. Se a família permanece imóvel, que se pode esperar do resto?! A primeira Igreja foi, é e permanece a família.

2. Importa, por isso, possibilitar e inserir, de forma adequada, a oração, a catequese e a celebração cristã do domingo que têm lugar no âmbito da comunidade paroquial, na família para que se torne o que é, Igreja doméstica. Na realidade, se assim não for, quanto se fizer, ao nível das nossas paróquias, aparecerá como pontual e desconexo, meramente repetitivo e inoperante, tanto para jovens e adultos e, dificilmente, marcará ou animará o ritmo da vida quotidiana, deixará de ter impacto, na transformação da Igreja e da sociedade. Assim, a família deve tornar-se o espaço da preparação da liturgia da comunidade e o eco da vida espiritual da Igreja.

3. É certo que, hoje, se vive num tempo muito rico, do ponto de vista de propostas culturais. Os programas da Igreja já não são únicos. Isso requer que saibamos conviver e concorrer, descontraída e responsavelmente. A Quaresma é a preparação para a Páscoa. É sempre. Mas os modos não têm que ser repetitivos. Essa é questão pastoral. Temos os conteúdos, o que já não é pouco. As formas não são despiciendas. A nossa aposta perde-se, frequentemente, pela informalidade (apresentam-se informes). O apelo é a criatividade inesgotável. Neste sentido, importa ultrapassar âmbitos, para que Cristo possa chegar onde quer estar presente. Esta atitude aplica-se também à família e poderá ter eco na Igreja. Certa concentração paroquial, como efeito ou causa de dispersão familiar, precisa de ser atendida, avaliada e corrigida.

4.A liturgia apresenta-nos a Quaresma como um caminho com Cristo e para Cristo. Neste caminhar vão todos, os pais e filhos, adultos e jovens, velhos e crianças, Papa, bispos, padres, catequistas, etc... Por isso, no início da Quaresma invocamos aqueles que trilharam este caminho, o do Evangelho, e já chegaram à meta, a Virgem Maria e os Santos, e nos alentam e estimulam a segui-lo, neste tempo e lugar. Quem são, como viveram, o que fizeram esses paladinos do Evangelho? Os nomes dados aos elementos da família poderiam dar pistas de pesquisa e relançar a Quaresma como a “viagem da vocação celeste”, como lhe chamava o historiador cristão do séc. III/IV, Eusébio de Cesareia.

5. Para a Quaresma, a Igreja tem um programa próprio e original: “a oração, o jejum e a esmola”. Com frequência, encaramo-lo como um conjunto de acções ou de obras que importa fazer e desfazemo-nos nelas, sem descortinar a perspectiva ou o horizonte. Bem diferentemente, se interpenetram e incluem: o jejum não faz sentido sem oração e esmola; e a oração é o escolher a melhor parte que nos permite avaliar mais justamente os bens materiais e o serviço fraterno; e a esmola transforma-se em partilha de bens que são dons e torna-se em imitação da generosidade divina. Então, a Quaresma é a realidade sempre nova e actual que forma o homem novo, no modelo de Cristo Cristo que, ocultando a sua condição divina se abaixou até nós, tornando-se servo e humilhando-se, por nós, até à morte de cruz. Eis a novidade que se exercita na Quaresma quer em família, que em cada comunidade paroquial.

6.Em cada casa poder-se-ia assinalar a Quaresma com algum símbolo que, numa dependência comum lembrasse a todos o caminho para a Páscoa. Uma cruz especialmente entronizada, com uma luz; ou, então, a Bíblia ou os Evangelhos… Este seria um lugar muito especial de reunião familiar para a oração.

7.Mas há outras iniciativas que poderão ser propostas pelos pais ou pelos filhos: oração antes e depois das refeições; o terço em família (ou só um mistério do terço, para os mais pequenos); a via-sacra (ou apenas uma estação cada dia); o exame de consciência em comum, preparando o sacramento da penitência, na Quaresma, já que o verdadeiro jejum será sempre o abandono do pecado; alguma privação familiar comunitária cuja poupança reverta para alguma obra boa (social, cultural ou espiritual), sobretudo visitando e socorrendo os vizinhos necessitados.

8.A Páscoa é a grande festa dos cristãos. A Quaresma encaminha-se para ela. Preparemo-nos convenientemente. Na Quaresma, o nosso olhar dirige-se para a Páscoa, anual e eterna.

 
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Jornal - Notícias da Igreja

Catequese do Papa:

o caminho baptismal da Quaresma

A Quaresma é um caminho, é acompanhar Jesus que sobe a Jerusalém, lugar do cumprimento do seu mistério de paixão, morte e ressurreição; ela nos recorda que a vida cristã é um “caminho” a ser percorrido, que consiste não tanto em uma lei a ser observada, mas na própria pessoa de Cristo, a quem vamos encontrar, acolher, seguir. Jesus, de facto, fala: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me” (Lc 9,23). Em outras palavras, diz-nos que, para chegar com Ele à luz e à alegria da ressurreição, à vitória da vida, do amor, do bem, também nós devemos carregar a cruz de cada dia, como nos exorta uma bela página da “Imitação de Cristo”: “Toma, pois, a tua cruz, segue a Jesus e entrarás na vida eterna. O Senhor foi adiante, com a cruz às costas, e nela morreu por teu amor, para que tu também leves a tua cruz e nela desejes morrer. Porquanto, se com Ele morreres, também com Ele viverás. E, se fores seu companheiro na pena, também o serás na glória” (L. 2, c. 12, n. 2). Na Santa Missa do 1º Domingo da Quaresma, rezaremos: “Concedei-nos, ó Deus omnipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa” (Colecta). É uma invocação que dirigimos a Deus porque sabemos que só Ele pode converter o nosso coração. E é sobretudo na liturgia, na participação dos santos mistérios, que somos levados a percorrer este caminho com o Senhor; é um colocar-nos na escola de Jesus, percorrer os acontecimentos que nos trouxeram a salvação, mas não como uma simples comemoração, uma lembrança de factos passados. Nas acções litúrgicas, Cristo torna-se presente através da obra do Espírito Santo, e esses acontecimentos salvíficos tornam-se actuais. Há uma palavra-chave muitas vezes usada na liturgia para indicar isso: a palavra “hoje”; e esta deve ser entendida no sentido original, não metafórico. Hoje, Deus revela a sua lei e permite-nos escolher hoje entre o bem e o mal, entre vida e a morte (cf. Dt 30, 19); hoje, “o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15); hoje, Cristo morreu no Calvário e ressuscitou dos mortos; subiu ao céu e está sentado à direita do Pai; hoje, recebemos o Espírito Santo; hoje é o tempo favorável. Participar da liturgia significa, então, submergir a própria vida no mistério de Cristo, na sua presença permanente, percorrer um caminho pelo qual entramos na sua morte e ressurreição para ter a vida.

Nos domingos da Quaresma, de forma muito particular neste ano litúrgico do ciclo A, somos convidados a viver um itinerário baptismal, percorrendo quase o caminho dos catecúmenos, daqueles que se preparam para receber o Baptismo, para reavivar em nós este dom e fazê-lo de maneira que as nossas vidas recuperem as exigências e os compromissos deste Sacramento, que está na base da nossa vida cristã. Na mensagem que enviei para esta Quaresma, eu quis recordar o nexo particular que une tempo quaresmal ao Baptismo. A Igreja sempre associou a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: nele, realiza-se esse grande mistério pelo qual o homem, morto para o pecado, torna-se participante da vida nova em Cristo ressuscitado e recebe o Espírito de Deus, que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). As leituras que escutaremos nos próximos domingos - e às quais vos convido a prestar uma atenção especial - são tomadas precisamente da tradição antiga, que acompanha o catecúmeno na descoberta do Baptismo: são o grande anúncio do que Deus faz neste sacramento, uma magnífica catequese baptismal dirigida a cada um de nós. No 1º Domingo, chamado “Domingo da tentação”, pois apresenta as tentações de Jesus no deserto, convida-nos a renovar a nossa decisão definitiva por Deus e a enfrentar com coragem a luta que nos espera para permanecermos fiéis a Ele. Está sempre presente esta necessidade da decisão, de resistir ao mal, de seguir Jesus.

 

 
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Jornal - Notícias da Igreja

Mensagem de Bento XVI

para a Quaresma 2011

«Sepultados com Ele no baptismo,

foi também com Ele que ressuscitastes»

Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me sinto feliz por dirigir uma palavra específica para que seja vivido com o devido empenho. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma).

1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Baptismo, quando, «tendo-nos tornado participantes da morte e ressurreição de Cristo» iniciou para nós «a aventura jubilosa e exaltante do discípulo» (Homilia na Festa do Baptismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010). São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O facto que na maioria dos casos o Baptismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria existência «os mesmos sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2, 5), é comunicada gratuitamente ao homem.

O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa «conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos» (Fl 3, 10-11). O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo.

Um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais abundantemente os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal» (Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De facto, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Baptismo como um acto decisivo para toda a sua existência.

2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é baptizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele.

O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Hb 6, 12), no qual o diabo é activo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.

O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.

O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.

O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?». «Creio, Senhor» (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da luz».

Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: «Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?» (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: «Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27). A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança.

O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas baptismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos «da água e do Espírito Santo», e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à acção da Graça para sermos seus discípulos.

3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Baptismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a «terra», que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1 Jo 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a «palavra da Cruz» manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1 Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf. Enc. Deus caritas est, 12). Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).

No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projectos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola: «Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato! Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia.

Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciámos no dia do Baptismo. A oração permite-nos também adquirir uma nova concepção do tempo: de facto, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que «as suas palavras não passarão» (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele «que ninguém nos poderá tirar» (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna.

Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é «fazer-se conformes com a morte de Cristo» (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.

Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Baptismo. Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas acções. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.

 
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